Por Gustavo Simão – Gerente de Serviços Veterinários da Agroceres PIC e Luciano Brandalise – Equipe Comercial Agroceres PIC
Estudos realizados pela Agroceres PIC descrevem a dinâmica de infeção do Mhyo e dão suporte ao desenvolvimento de protocolos de aclimatação de leitoas negativas próprios para a realidade brasileira de produção. Entenda que cuidados específicos precisam ser adotados para promover uma boa adaptação sanitária de leitoas livres do agente.
A equipe de Serviços Veterinários da Agroceres PIC trabalhou intensamente nos últimos anos para entender o comportamento da dinâmica de infecção de Mhyo em leitoas de reposição negativas para o agente. O objetivo central dos estudos foi desenvolver estratégias sanitárias eficazes para a prevenção e o controle da enfermidade com base na realidade brasileira de produção, algo ainda inédito.
Após cinco anos de experimentos de campo, os estudos revelam descobertas importantes. Além de comprovar o benefício econômico das leitoas de reposição negativas para Mhyo, os estudos permitiram desenvolver protocolos de aclimatação próprios para a realidade brasileira de produção.
A adaptação sanitária é um procedimento-chave para a redução do impacto das doenças endêmicas e uma prática primordial para a construção da imunidade do plantel. Na aclimatação de leitoas negativas para Mhyo três pontos básicos precisam ser observados rigorosamente: a exposição ou contato dos animais com o agente infeccioso, a medicação e a vacinação. Confira, a seguir, como promover o alojamento de leitoas livres de Mhyo em granjas positivas para o agente.
Medicação
O uso indiscriminado de medicamentos pode interferir de forma negativa na formação da imunidade do rebanho durante a adaptação sanitária. Isso acontece porque a medicação é antagônica a aclimatação e capaz de retardar ou impedir o contato dos animais com a microbiota da granja. Assim, fique atento às seguintes orientações:
- Até o início da fase de flushing, promova o tratamento terapêutico das leitoas com princípio ativo sem ação sobre Mhyo.
- A medicação, quando necessária, deve ser realizada por via injetável e de forma individual.
- Medique o indivíduo, no início das manifestações clínicas, e não o lote. Respeite o uso de princípios ativos que não tenham ação sobre Mhyo e sim sobre outros patógenos do trato respiratório. Os princípios ativos sugeridos incluem: Ceftiofur, Amoxicilina e Penicilinas.
- O uso de antimicrobianos de forma “massal”, bem como o uso de outros princípios ativos, fica a critério do médico veterinário responsável, sempre que necessário, mas com uso preferencial pelos princípios ativos acima mencionados.
- A partir do início do flushing, os animais que apresentarem sintomatologia respiratória devem ser medicados com um dos princípios ativos: Tulatromicina, Gamitromicina, Enrofloxacina, Florfenicol, Marbofloxacina para evitar perdas reprodutivas significativas.
Vacinação
- Imunize as leitoas contra Mhyo, imediatamente, após o alojamento na granja. Realize a vacinação dos animais entre 3 e 5 dias após a chegada do lote à unidade de produção.
- Além da vacina contra Mhyo é necessário cumprir o programa mínimo de vacinação para agentes secundários, que deve ser definido a partir de dados de diagnóstico e com base nas características de cada a granja. De modo geral, os protocolos incluem: Mhyo, Circovírus Tipo 2 (PCV2), acrescido de agentes que desafiam o sistema (Ex: Pasteurella multocida, Glaesserella parasuis, Streptococcus suis, entre outros).
- De maneira prática, imunize todos os lotes de reposição utilizando as mesmas vacinas dos leitões, implementadas pelo médico veterinário responsável (seguindo as orientações do fornecedor).
- O Actinobacillus pleuropneumoniae (APP) é responsável por altos índices de mortalidade de leitoas negativas em aclimatação. Em granjas onde não é sabido o status sanitário para APP, adote protocolo vacinal para o agente.
- Em granjas em povoamento, e que o produtor não tenha pretensão de manter livre ou de alto desafio sanitário regional para Mhyo, a sugestão é imunizar para Mhyo, Circovírus Tipo 2 (PCV2), Pasteurella multocida A e Glaesserella parauis.
- O uso de vacinas visa garantir a imunização das leitoas diante dos desafios sanitários que possam vir a ser enfrentados pelo plantel. Para as demais vacinas de rotina (reprodutivas, rinite, entre outras), siga o protocolo preconizado pelo médico veterinário responsável.
Exposição ou contato com o agente infeccioso
- A exposição de 21 dias já é suficiente para a colonização do trato respiratório do animal pelo agente infeccioso.
- Aloje as leitoas em baias que permitam o contato direto com animais do lote alojado anteriormente. O contato entre animais de diferentes idades, otimiza a aclimatação, por meio da excreção ativa dos agentes da microbiota residente.
- Mesmo em unidades de produção que trabalham com manejo em bandas, o alojamento deve ser feito sempre pensando em promover o contato das leitoas recém-chegadas com os animais do último lote.
- No caso de unidades de produção cujas baias sejam sólidas, intercale as baias com leitoas de lotes diferentes ou adicione à baia de leitoas recém-alojadas uma fêmea com quadro clínico respiratório.
- Lembre-se, animais de descarte e matrizes adultas (acima de 2 partos), podem não contribuir para o processo de aclimatação.
Conclusão
A aclimatação sanitária exige atenção aos sinais clínicos e um acompanhamento diário próximo às leitoas, pelo menos até a cobertura. É o momento em que os animais recém-chegados são expostos, de forma controlada, aos patógenos existentes na granja de destino, estimulando seu sistema imunológico.
Quando realizada de forma adequada, a adaptação sanitária confere enormes benefícios à saúde do plantel, uma vez que reduz o número de leitoas doentes no momento da cobertura e assegura que as primíparas cheguem ao instante da inseminação e, do parto, com o mínimo desafio sanitário possível, condição básica para evitar perdas reprodutivas significativas e transmissão de enfermidades para os leitões ao primeiro parto.
O desenvolvimento de protocolos de aclimatação com base em estudos da realidade brasileira torna essa prática sanitária ainda mais assertiva e, portanto, essencial para elevar o padrão sanitário do plantel e da unidade de produção.
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