Por Luciano Brandalise – Equipe Comercial Agroceres PIC
O Mycoplasma hyopneumoniae (Mhyo) é um dos agentes de maior impacto na suinocultura, responsável por prejuízos econômicos significativos, pois gera perdas em índices zootécnicos importantes (principalmente conversão alimentar, ganho de peso diário e mortalidade) e eleva os custos sanitários da granja. Após cinco anos de estudos em campo, a Agroceres PIC confirmou os benefícios econômicos de introduzir leitoas de reposição negativas para o agente e desenvolveu um protocolo exclusivo, adaptado à realidade brasileira. A adoção de um protocolo eficaz para aclimatação sanitária é essencial para garantir a saúde dos animais e maximizar os ganhos produtivos. Confira, a seguir, as principais orientações para aclimatar leitoas livres de Mhyo com sucesso.
1 – Exija leitoas de reposição de origem negativa para Mhyo
Estudos recentes, realizados em diferentes universidades e instituições de pesquisa, demonstram que uma mesma unidade de produção, ou até um mesmo animal, pode conter mais de uma variante de Mhyo. Na prática, isso significa que uma leitoa de reposição Mhyo positiva, entrando em um plantel positivo, pode carrear variantes inéditas e, inevitavelmente, precisa, também, se adaptar às variantes existentes na granja destino. Além da garantia da procedência de origem, leitoas de reposição livres de Mhyo apresentam alto status sanitário, evitando o carreamento de novas variantes de Mhyo ou agentes secundários não existentes na granja. Isso permite a redução do uso de antibióticos nos sistemas de produção, uma forte exigência dos consumidores.
2 – Utilize quarentena sempre que houver ingresso de animais de reprodução
Antes de introduzir as leitoas no plantel, é essencial mantê-las em uma área de quarentena devidamente isolada. Esse período deve durar de 30 a 60 dias, conforme as recomendações veterinárias. A permanência dos animais na quarentena permite identificar sinais clínicos de doenças, a realização de testes diagnósticos para confirmação do status sanitário dos animais a serem introduzidos no plantel reprodutivo. A área de quarentena deve ser equipada com controle rígido de acesso e boas práticas de biossegurança, incluindo troca de calçados, equipamentos e superfícies, além de mudanças de vestuário para os trabalhadores responsáveis.
3 – Execute corretamente a avaliação clínica e laboratorial durante a quarentena
Use critérios rigorosos na avaliação clínica e laboratorial para autorizar o ingresso dos animais da quarentena ao rebanho reprodutivo. A inspeção clínica, conduzida diariamente, deve observar sinais como tosse, secreções nasais, diarreia e alterações comportamentais. No aspecto laboratorial, realize testes específicos para patógenos de importância sanitária. Os resultados laboratoriais, embora fundamentais, devem ser analisados à luz da avaliação clínica e do histórico sanitário dos animais. Em casos de resultados inesperados nos exames, a inspeção clínica prevalece como critério decisivo, assegurando que apenas leitoas perfeitamente saudáveis sejam liberadas para o convívio com o plantel reprodutivo.
4 – Adote o uso estratégico de vacinas
O uso de vacinas é outro aspecto importante para a adaptação sanitária do plantel. Imunize as leitoas contra Mhyo entre 3 e 5 dias após o ingresso no plantel principal. Embora a vacina não impeça a exposição e/ou excreção do agente, ela reduz significativamente os sintomas clínicos, o que é crucial para uma adaptação sanitária eficiente. Além da vacina contra Mhyo, cumpra o programa básico de vacinação para outros patógenos de relevância na granja, geralmente semelhante ao utilizado em leitões. É importante destacar que monitoramentos apontam que as maiores perdas durante a adaptação de leitoas negativas ocorrem em ambientes com diagnóstico impreciso dos agentes infecciosos presentes, em especial o Actinobacillus pleuropneumoniae (APP). Por isso, mesmo que a vacinação contra APP não seja uma prática comum, ela é recomendada em granjas onde não há clareza sobre a presença desse agente, para minimizar os índices de mortalidade e maximizar o desempenho reprodutivo futuro.
5 – Promova a exposição controlada ao agente infeccioso
Durante a aclimatação, é primordial garantir que as leitoas de reposição tenham exposição adequada a microbiota da granja. Estudos mostram que um período de contato de 21 dias é suficiente para a colonização do trato respiratório para Mhyo, condição essencial para a adaptação sanitária. Para isso, aloje as leitoas recém-chegadas em baias que permitam contato com animais de lotes anteriores. Em unidades que operam com manejo em bandas, o alojamento deve priorizar a proximidade com os animais do lote mais recente. Caso a estrutura não permita contato direto — como em baias com separações compactas —, é recomendado intercalar baias com leitoas de diferentes lotes. Por exemplo, coloque uma baia com leitoas recém-ingressas ao lado de baias com animais do lote anterior. Outra estratégia é inserir, na baia das leitoas recém-alojadas, uma fêmea com quadro clínico respiratório leve do lote anterior, permitindo uma exposição controlada ao agente infeccioso e garantindo a adaptação gradual.
6 – Gerencie o uso de medicação de forma estratégica
A medicação dos suínos deve ser rigorosamente aplicada e controlada durante a aclimatação. O uso indiscriminado de antimicrobianos, por exemplo, pode interferir negativamente na formação da imunidade do rebanho, pois é capaz de retardar ou impedir o contato dos animais com a microbiota da granja, comprometendo a adaptação sanitária. Restrinja a medicação a casos específicos e a realize de forma individualizada, utilizando princípios ativos sem ação sobre Mhyo. Essa abordagem é especialmente indicada até o período de flushing, exceto em situações de quadros respiratórios exacerbados, que devem ser avaliados e tratados conforme recomendação do veterinário responsável. A partir do início do flushing, animais que apresentarem sinais clínicos de problemas respiratórios, como tosse ou dispneia, devem ser medicados com princípios ativos contra Mhyo, garantindo a estabilização sanitária antes da integração ao rebanho principal.
7 – Priorize a introdução de leitoas mais jovens no plantel
A introdução de leitoas com idade inferior a 150 dias no plantel, embora não seja uma prática amplamente adotada na suinocultura brasileira, pode oferecer benefícios sanitários e produtivos significativos. Estudos da Agroceres PIC indicam que uma parcela das leitoas alojadas aos 150 dias de vida já cessou a excreção do agente Mhyo, conforme detectado por PCR, estando plenamente aclimatadas no momento da 1ª cobertura. Essa condição está associada a melhorias na performance reprodutiva, incluindo redução de mumificados e aumentos expressivos no número de leitões nascidos vivos, com ganhos médios de 1,2 leitões por fêmea, alcançando até 1,9 em condições específicas. Como o período de excreção do Mhyo varia entre granjas, alojar leitoas mais jovens aumenta a chance de que estejam livres do agente no parto, reduzindo sua disseminação aos leitões e fortalecendo o controle sanitário do plantel.