Durante muito tempo o manejo de suínos dependeu da observação humana. Olhos atentos, ouvidos treinados e experiência de campo eram o que ditavam a eficiência. Com a crescente digitalização no campo, essa realidade começa a mudar.
Como destacou o Dale Polson, diretor da Cognitive Ag, LLC. em sua palestra no Seminário PIC LATAM, estamos entrando em uma nova fase, a dos sistemas inteligentes que escutam os animais.
Segundo ele, a suinocultura global vive o limiar de uma nova era, marcada pela interação de tecnologias e pela otimização da sinergia entre humanos e máquinas. Nesse cenário, a monitorização acústica, ou “escuta inteligente”, surge como um dos exemplos mais fascinantes de como ciência e empatia com o animal podem caminhar juntas. Como disse Polson, “os suínos têm muito a nos dizer e podemos nos beneficiar sendo melhores ouvintes”.
Tecnologia que dá voz aos suínos
O sistema SoundTalks desenvolvido na Katholieke Universiteit Leuven, na Bélgica, é o maior exemplo de aplicação prática dessa abordagem. Com sensores de áudio instalados nos galpões, o sistema capta, analisa e interpreta sons respiratórios emitidos pelos animais, identificando padrões que indicam doenças respiratórias emergentes, dias antes da detecção pela equipe de manejo e/ou dos protocolos de rotina.
Os resultados apresentados por Polson são contundentes. Em estudos distintos, o SoundTalks detectou episódios respiratórios de 4–14 dias antes da equipe da granja (Carpentier 2016) ou 2–5 dias antes (Polson 2018). Em experimentos com M. hyopneumoniae e Influenza A, o fluido oral acionado por alerta antecipou em ~4,8 dias o fluido oral semanal (Hogan et al., IPVS 2022)
Além disso, o monitoramento contínuo permitiu mapear a propagação das doenças por sala, granja e fluxo, oferecendo um retrato dinâmico da saúde do rebanho. Esses resultados mostram como a escuta digital dos suínos transforma a prevenção em predição, viabilizando intervenções mais rápidas, precisas e econômicas.
Biossegurança por rede
O SoundTalks foi testado em múltiplos níveis da cadeia produtiva. Nas Unidades de Desenvolvimento de Leitoas, o sistema ajuda a detectar precocemente episódios respiratórios antes da entrada das fêmeas em granjas comerciais, prevenindo a disseminação vertical e horizontal de agentes infecciosos.
Em rebanhos de crescimento e terminação, auxilia na avaliação da efetividade de protocolos sanitários e na análise de risco. Essa granularidade – ouvir cada sala, cada fluxo, cada granja – abre caminho para uma nova visão da biossegurança por rede, na qual os dados acústicos se tornam um termômetro coletivo de saúde animal.
Ouvir, entender, agir
Em um setor onde cada detalhe impacta o desempenho produtivo, aprender a ouvir os animais pode ser o rompimento de fronteira para maior rentabilidade. As pesquisas de Polson demonstram que, ao transformar sons em dados e dados em decisões, a suinocultura se torna mais eficiente, empática e previsível.