Entenda como novas tecnologias vão acelerar o melhoramento genético de suínos e alçar o setor a um novo patamar de eficiência e competitividade ao longo da próxima década.
Num cenário de margens apertadas, pressão sanitária crescente e consumidores mais exigentes, a contribuição da genética já é e será cada vez mais decisiva. O avanço de que o produtor precisa não virá de um único salto, mas da combinação de tecnologias capazes de acelerar o ganho genético, reduzir a variabilidade entre lotes e transformar dados de granja em decisões objetivas.
Essa foi, em essência, a mensagem de Matt Culbertson, COO da PIC, no Seminário Executivo PIC LATAM, no Panamá. Na palestra “Shaping our Shared Future in a Volatile and Demanding World”, Culbertson traçou um panorama detalhado de como a inovação genética pode ampliar a eficiência e a competitividade do setor ao longo da próxima década.
Foco no impacto no campo
Para responder a essa demanda, a PIC vem direcionando investimentos com o objetivo de fazer com que o progresso obtido nas Granjas Elite chegue mais rápido e de forma efetiva ao campo.
Quatro vetores sustentam essa estratégia. Primeiro, aumentar a intensidade de seleção, isto é, avaliar um número maior de candidatos e ser mais rigoroso na escolha dos melhores reprodutores. Segundo, acelerar a disseminação desse mérito genético, encurtando o caminho entre a genética superior e a granja comercial. Terceiro, ampliar e qualificar a base de dados, com medições mais completas e precisas para reduzir ruídos e vieses. Quarto, incorporar tecnologias de próxima geração que transformam essas medições em decisões objetivas e reproduzíveis.
Em paralelo, a PIC reforça a capacidade de fornecimento global — incluindo o Brasil, com a Granja Gênesis — para dar velocidade e previsibilidade a esse fluxo. Na prática, mais capacidade global de oferta maximiza a intensidade de seleção na origem (mais candidatos, escolhas mais rigorosas) e, ao mesmo tempo, permite distribuir mais rapidamente, aumentando a velocidade de adoção pelo produtor.
Na linha de frente da tecnologia genética
O que sustenta essa mudança de ritmo são tecnologias e ferramentas que aumentam a precisão do melhoramento genético. Um exemplo é o uso de visão computacional proprietária, que elevou a acurácia das mensurações em mais de 300%. Em termos simples: câmeras e algoritmos passaram a medir com muito mais precisão características como peso, conformação e estrutura dos animais, em escala e sem depender apenas do olho humano.
Outro avanço foi o desenvolvimento de sistemas que dobram a capacidade de registrar a ingestão de ração das matrizes ao longo da gestação e da lactação. Com esse tipo de dado, é possível entender melhor quais fêmeas convertem alimento em produção de forma mais eficiente, e quais dão origem a leitões mais uniformes e saudáveis.
Some-se a isso modelos que predizem diretamente a longevidade estrutural. Traduzindo: fica mais fácil selecionar fêmeas que permanecem produtivas por mais ciclos, reduzindo o descarte precoce e os custo de reposição. Em resumo, são dados que destravam ganho genético, porque permitem escolher hoje os animais com maior probabilidade de entregar resultados amanhã.
Essa lógica também se estende ao que acontece depois do desmame. Não basta crescer rápido, é preciso gerar valor ao longo de toda a cadeia. Por isso, a PIC trabalha o conceito de “valor total do produto vendável”, que considera rendimento de cortes, qualidade de carcaça e experiência de consumo, além do ganho diário e da eficiência alimentar. Quando a genética é pensada para a indústria e para o consumidor final, a remuneração volta em forma de previsibilidade e margens mais estáveis para todos os elos da cadeia.
O suíno de amanhã, hoje
Os resultados de campo começam a mostrar o suíno de amanhã, medido hoje. Entre os TOP 5% dos machos testados em 2024, as projeções apontam para uma conversão alimentar de 1,622 nas linhas maternais e de 1,426 nas linhas terminais, convergindo para um “futuro suíno comercial” em torno de 1,524.
Em produtividade reprodutiva, sistemas de referência mostram granjas com mais de 38 leitões desmamados por fêmea por ano e médias superiores a 34. Esses números não são isolados; eles refletem uma tendência construída pela combinação de genética, manejo e integração de diferentes áreas de conhecimento na granja.
Sanidade como oportunidade
A sanidade continua sendo tanto um gargalo quanto uma oportunidade. A Síndrome Reprodutiva e Respiratório dos Suínos (PRRS) segue entre os maiores custos sanitários da suinocultura. Nos Estados Unidos, estimam-se perdas anuais de até US$ 1,2 bilhão, um salto em relação à década anterior. A resposta passa por reforçar biossegurança, vacinação e manejo, mas também por abrir espaço para novas ferramentas.
A edição de genes aplicada à suinocultura aparece como uma dessas frentes, trazendo a perspectiva do suíno com resistência à PRRS. O princípio é simples de entender: se o vírus não encontra a “porta de entrada” nas células, a infecção não se estabelece, e as perdas associadas à doença caem de patamar. É um campo em evolução, que exige responsabilidade regulatória e introdução gradual, país a país. Ainda assim, o potencial de reduzir risco sanitário e estabilizar resultados econômicos é claro, sobretudo quando combinado com as boas práticas já conhecidas.
A locomotiva do trem
Entender por que a genética é o motor da eficiência ajuda a amarrar essas ideias. A genética influencia praticamente tudo o que pesa na planilha: a conversão alimentar que define quanto custa um quilo produzido, o ganho de peso diário que encurta o tempo até o abate, a robustez que reduz perdas, a uniformidade que facilita o manejo e melhora o rendimento na indústria.
O ponto central é que a taxa de ganho genético pode (e deve) acelerar. Quando se amplia a base de avaliação, mede-se melhor, escolhe-se com mais precisão e dissemina-se mais rápido, e o progresso deixa de ser linear e passa a se compor ano após ano. Dez anos de ganho composto mudam o patamar de competitividade de qualquer sistema.
Olhando para a próxima década, a direção é nítida: mais ciência aplicada e mais precisão. Isso significa maior intensidade de seleção, medições objetivas e padronizadas com apoio de visão computacional e sensores, registros contínuos na granja, modelos que antecipam a longevidade e uma rede de fornecimento capaz de levar o ganho ao campo com rapidez e segurança.
Significa também juntar o arsenal clássico da sanidade — biossegurança, vacinação, manejo — com inovações disruptivas, como a resistência genética à PRRS, para reduzir o risco e melhorar a previsibilidade econômica.
O recado final de Matt Culbertson resume essa filosofia em três palavras: Never Stop Improving. Em suinocultura, isso se traduz em uma curva de desenvolvimento permanente. Medir melhor, selecionar melhor, disseminar mais rápido, simplificar a execução e compartilhar conhecimento.
É assim que o resultado aparece onde realmente importa: no lote comercial, na indústria e, por fim, na mesa do consumidor. De acordo com Culbertson, ao manter a inovação próxima do produtor, com clareza técnica e responsabilidade regulatória, a próxima década tem tudo para ser a mais produtiva e sustentável da produção suinícola.