Inovação só vira valor quando é compreendida. Como traduzir ciência em linguagem simples pode aumentar a confiança do consumidor e abrir espaço para novas tecnologias na suinocultura.
Na suinocultura, inovação só vira valor quando é compreendida. Em um ambiente de excesso de informações, estímulos incessantes e fragmentação da atenção, a forma como explicamos ciência decide se conquistamos confiança ou erguemos barreiras. Essa foi a mensagem central da palestra de Marisa Pooley, Diretora de Comunicação e Engajamento da PIC, durante o Simpósio Executivo PIC LATAM 2025.
Segundo ela, a comunicação precisa ser simples e próxima das pessoas. É necessário reduzir jargões técnicos e adotar uma linguagem acessível. Pesquisas citadas por Pooley mostram que evitar termos técnicos aumenta o entendimento, o engajamento e a aceitação, especialmente entre públicos menos familiarizados com o vocabulário do setor. “A comunicação inadequada, por outro lado, gera ruído, exclusão e erosão de confiança”, explica.
Comunicação em três movimentos
Como, então, estabelecer uma comunicação efetiva com o consumidor? Segundo a especialista, há três movimentos práticos: mensagens claras e concisas; o uso do “porquê” (explicitar o motivo aumenta a persuasão); e “a força do três” — uma ideia central acompanhada de três pontos de apoio —, fórmula que favorece a memorização e o equilíbrio. Além disso, pausas e pontuação também são essenciais para que a informação seja melhor assimilada.
De acordo com Pooley, a estratégia adotada no caso do suíno resistente à Sindrome Reprodutiva e Respiratória dos Suínos (PRRS) exemplifica o impacto desse enquadramento. As mensagens focaram em narrativas que explicam benefícios concretos — proteger o animal, elevar o bem-estar e reduzir o uso de antibióticos —, deixando claro “o que muda e o que não muda”. “O raciocínio é de que não é uma mudança na carne; é uma mudança em como o animal é protegido, com ênfase de que nada “estranho” foi inserido e que o resultado é um suíno que adoece menos”, destaca.
Comunicando valores
Por que essa abordagem funciona? Porque “comida é algo muito pessoal”, pontua Pooley. “Ao conectar inovação a valores — saúde, bem-estar animal e proteção —, reduzimos reações defensivas frente a novas tecnologias e avançamos na curva de aceitação”, explica. “Quando mostramos o problema (um vírus que impacta milhões de animais), a solução (edição precisa que remove a “porta de entrada” da PRRS) e o benefício ao consumidor e à sociedade, a conversa muda de tom”, completa.
Segundo Pooley, é preciso transformar ciência em linguagem acessível, com transparência e consistência, para abrir novas oportunidades de mercado. Em resumo: menos jargão, mais contexto; menos defesa, mais propósito. “Quando comunicamos melhor, somos melhor compreendidos e a suinocultura ganha em confiança, valor e futuro”, finaliza.